domingo, 25 de novembro de 2012


TEOLOGIA ESCAPISTA
Particularmente, por anos, estive condicionado a um tipo de “profetismo escatológico catastrófico”, comum à quase totalidade da cristandade do seguimento pentecostal, de uma “fuga do inferno na terra”. De fato, considerando sua sistemática e elaborada organização, a escatologia pré-milenista deteve a preeminência entre a maioria dos cristãos ao redor do mundo, com suas teses sistematicamente difundidas pelo controverso teólogo C.I. Scofield e sua Bíblia de Estudos. Ao tornar-me cônscio da necessidade de uma compreensão escatológica não condicionada ao seguimento denominacional, pude, com iluminação e coerência, estudar à cerca deste tema; confesso que por alguns momentos me senti à beira da “heresia”, dada a grande diferença entre a crença denominacional que sustentei por anos, e a verdade.
Acerca disso, ainda me pronunciarei pormenorizadamente, mas para esta postagem, entendi que seria interessante apresentar pensamentos lúcidos de um teólogo conservador e bíblico. As palavras do respeitado pastor e teólogo norte-americano Phillip G. Kayser, representam maravilhosamente bem a teologia (em especial a escatologia) da Igreja em seus primeiros mil e oitocentos anos (até 1840 d. C.) que refuta com sólido fundamento escriturístico a perspectiva de Deus acerca do envolvimento da Igreja nos “assuntos da Terra”.
Enéas Ribeiro

O pecado do escapismo é uma realidade, e mesmo os melhores dos santos têm sido tentados neste pecado. No Salmo 11, Davi foi tentado a fugir como um pássaro para uma montanha, pois os fundamentos da sua cultura estavam sendo destruídos. De fato, naquele capítulo ele está descrevendo vários problemas que estamos experimentando atualmente na América. Mas ele resistiu à tentação de escapar, e resistiu pela fé. Ele recusou escapar das suas responsabilidades.
Uma forma de escapismo é encontrada na declaração “nossa cidadania está no céu e devemos tirar as pessoas da terra”. Mas Paulo não encontrou nenhuma contradição em reivindicar uma cidadania celestial em Filipenses 3.20 e ao mesmo tempo reivindicar e usar sua cidadania romana em Atos 16.37-39 e em 22.22-29. Nossa cidadania celestial (se corretamente entendida) impactará profundamente nossa cidadania terrena. Ela traz em perspectiva aquela frase maravilhosa, “Uma nação sob Deus”.
Outra forma de escapismo pode ser encontrada na declaração, “O reino de Deus não é deste mundo”. Novamente, essa é uma declaração verdadeira se enterdemos pela palavra “de” [deste = de + este] que o reino de Deus não é derivado deste mundo. Ele é derivado do céu. Mas o que a oração do Senhor pede? “Venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu.” Essa não é uma oração escapista. É uma oração que deseja ver o reino celestial influenciar e mudar as coisas terrenas.
Outra forma de escapismo pode ser encontrada na expressão, “Estamos buscando apenas aquelas coisas que são de cima”. Uma vez mais, essa é uma declaração verdadeira, mas retirada do contexto. O contexto de Colossenses 3 é que Cristo (que é de cima) é suficiente para tudo o que precisamos na vida. Não se trata de um chamado para escapar da vida. E sabemos isso porque Paulo continua e mostra em Colossenses como Cristo é suficiente para as nossas relações no casamento, com os filhos, patrões, empregados e “tudo quanto fizerdes”. Isso não é escapismo. Isso é pedir que a Sua vontade seja feita na terra como é feita no céu. Mas era um mundo terra firma que estava sendo afetado em Colossenses.
Outra escusa dada é que o mundo não é importante. J Vernon McGee disse certa feita: “Você não dá uma polida no casco do navio que está afundando”. A ideia é que quando um navio está afundando, não se preocupe com o navio – salve almas! Ele acreditava que o nosso mundo estava afundando, sendo o evangelismo a única coisa importante com a qual deveríamos nos envolver. Mas João o Batista estava polindo casco quando tentou produzir reforma política em Lucas 3.19? Não! Ele estava fazendo o que todos os profetas do Antigo Testamento fizeram – confrontando males na sociedade e tentando fazer a diferença. Louvo a Deus por ele estar levantando candidatos que estão tentando produzir reforma em Washington, DC. E você verá, sem dúvidas, vários deles chegando através dessas portas. Se o mundo não fosse importante, por que o Novo Testamento diz que Deus estava em Cristo reconciliando o mundo consigo mesmo (2Co 5.19)? Por que ele prometeria que os mansos herdariam a terra (Mt 5.5)? Por que Jesus recebeu toda a autoridade no céu e na terra no primeiro século? Por que Romanos 13 diz que o magistrado civil é servo de Deus, um ministro de justiça? Por que o Novo Testamento diz tanto sobre empregadores, empregados, economia e administração da terra? Obviamente o mundo é muito importante para Deus. A Bíblia diz, “Porque meu é todo animal da selva, e o gado sobre milhares de montanhas”, demonstrando de maneira óbvia que ele está interessado em gados e montanhas. Eu amo o hino cristão “Alegria para o Mundo”. Ele diz que a graça de Deus é destinada a avançar, indo até mesmo onde a maldição é encontrada. Isso é bem longe. A maldição tem impactado negativamente a política? Sim, tem, e a graça de Deus é suficiente para ir bem longe, mesmo onde a maldição é encontrada.

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto – janeiro/2012

Phillip G. Kayser é o pastor sênior da Dominion Covenant Church em Omaha, Nebrasca. Recebeu o seu M.Div. do Westminster Theological Seminary (Califórnia) e o seu Ph.D. do Whitefield Theological Seminary (Flórida). Ele e sua esposa Kathy têm 5 filhos.

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